Região | "Estou no Céu", diz novo vocalista e baixista do RPM, Dioy Pallone

Músico de São Carlos é fundador da banda Carrão de Gás e falou sobre novo projeto, comparações com Paulo Ricardo e atual cenário musical na cidade

Entre os anos de 1989 e 1994, no pacato bairro do Parque Santa Mônica, em São Carlos, a presença de policiais se tornou algo corriqueiro em uma das casas por conta do que os vizinhos classificavam como um "barulho infernal". Na residência, diversos jovens se reuniam na garagem de Diógenes "Dioy" Pallone para tocar 'Rock and Roll' no volume máximo em um bairro marcado até hoje pelo silêncio. Tanto as autoridades, quanto os jovens e os vizinhos sequer sonhavam que, um dia, um daqueles garotos se tornaria uma estrela do rock.

"Trinta e nove anos de Rock and Roll". É dessa forma que Dioy Pallone começa falando sobre a própria história, que comemora mais um aniversário nesta sexta-feira (13). Por coincidência, no mesmo dia do nascimento de Dioy é comemorado o Dia Mundial do Rock - talvez um indicativo do que marcaria toda a trajetória do rapaz, fundador de um dos conjuntos mais importantes no cenário musical são-carlense, o Carrão de Gás. Apaixonado por música desde a infância, o rapaz nunca imaginou que a maior realização da carreira viria quando estivesse próximo de atingir a marca dos 40 anos. Em 2018, Dioy foi convidado para fazer parte de uma das maiores bandas de rock nacional de todos os tempos: o RPM. Apesar da dura tarefa em preencher o espaço deixado pelo consagrado Paulo Ricardo, o músico se mostra decidido a trilhar o próprio caminho e superar as comparações com o antecessor. Em uma entrevista ao portal ACidade ON São Carlos, Dioy falou sobre a carreira na música, a infância, dificuldades e os planos para o futuro no novo capítulo da história do RPM. Infância e adolescência em São Carlos
"Tudo começou com o Rock. Em 1983, quando eu tinha quatro anos, o Kiss veio para o Brasil e a cobertura foi exaustiva, tinha muita coisa acontecendo em cima deles, porque era uma banda muito grande. O Brasil ainda não estava naquele eixo de grandes bandas estrangeiras virem para cá, apesar de já ter rolado uma meia dúzia de shows importantes. O Kiss era a maior banda de rock daquela época, então causou um barulho gigante. A imagem deles, a forma como aquilo foi exposto para mim foi um tiro na cabeça. Fiquei muito envolvido. Tinha medo, em um primeiro momento, mas depois fiquei doido. A música, na verdade, entrou através da imagem. Na minha casa sempre rolou muita música, por conta dos meus pais. Na época não tinha muito o que fazer. Televisão tinha três canais, não pegava quase nada, então era muita música. Meus pais não gostavam tanto de rock. Meu pai curtia Pink Floyd e minha mãe muito pop e Elvis Presley", lembrou o músico. Aos 5 anos, o pequeno Diógenes insistiu para que o pai comprasse o primeiro disco de uma coleção de LPs que continua a crescer até hoje: o compacto I Love it Loud, do Kiss. "Com seis anos já tinha uma meia dúzia de discos dos caras. Estava em uma bandinha da escola, não tocava nada para valer. Era bumbinho, aquela coisa de inicialização musical infantil. Depois uma prima começou a me dar aulas de piano, já estava com uns 7 anos. Com 8 anos já tinha muito disco de rock, fita, comprava tudo quanto era revista, álbum, o que pintasse. Já era roqueiro mesmo. Quando meu pai tinha uma graninha, também me comprava discos, que eram muito caros. De domingo a gente ia na banca comprar jornal, eu via uma revista e meus pais às vezes me davam. Não sabia ler, mas estava interessado nas imagens. O rock era muito visual nos anos 80, então isso era cativante demais", afirmou.

No aniversário de 8 anos, Dioy ganhou o que seria seu primeiro instrumento, uma guitarra. No entanto, a empolgação precisava ser controlada. "Eu tinha mudado para um apartamento, depois de morar em casa minha vida toda, e ganhei a guitarra justamente nessa época. Foi duro, porque a minha mãe controlava um pouco. Pedia para tocar pouco, e eu não sabia tocar nada, só fazia barulho, mas estava na onda de pegar a guitarra e aprender. Uns três meses depois eu já estava fazendo aula, já tinha noção de música, sabia montar acordes a partir das revistinhas que comprava, e daí para frente não parei mais", recordou. Nascido em São Carlos, Dioy Pallone morou nos bairros da Vila Isabel, Vila Prado, Vila Nery, Centro até se mudar para o Santa Mônica, onde permaneceu durante toda a adolescência. "Minha casa tinha uma garagem gigante e viramos o terror da vizinhança. Todo dia tinha polícia na minha casa, porque tocava alto. É um bairro muito quieto até hoje, mas imagina há 25 anos. A cidade acabava ali, depois era rio, mato e mais nada. Então era quieto demais. Eu era o inferno de lá. Os vizinhos queriam morrer. Isso em 1989. Até 1994 só tocávamos em casa. Taquei o terror", brincou. O problema com os vizinhos fez com que o pai arranjasse um barracão na empresa da família para que o filho e os amigos pudessem fazer música. "Era um barracão velho, caindo aos pedaços, telha quebrada, goteira, poeira que não acabava mais. A gente pichou toda a parede. Era um estoque velho de pneus, escapamentos e porcariadas de carro. Eu desenvolvi minha primeira banda de verdade nesse lugar", disse. Se por um lado o envolvimento com a música era incentivado em casa pelos pais, na escola religiosa a preferência pelo Rock trouxe problemas para o menino. "Estudei boa parte da minha vida na Escola Adventista. Eu queria levar as coisas para a aula e era um lugar muito rígido em termos religiosos. Eu cansei de perder revistas na escola, porque os adultos tomavam de mim se vissem. Professor falava que era coisa do demônio. Eu perdi álbum de figurinhas, fita cassete, era bem puxado. Depois eu me mudei para um lugar não menos complicado, o Colégio São Carlos, que era um pouco mais light na época. Chegamos até a tocar com banda no Colégio. Eles davam espaço. Mesmo assim, ainda tinha certos problemas. Meu cabelo era comprido, começava a crescer e vinham as freiras me falar para cortar. Depois disso fui para o Sapiens e tudo mudou", mencionou. A mudança para uma escola livre da educação religiosa fez com que a musicalidade e o espírito livre aflorassem de forma acelerada no estudante. "Era muito diferente porque não tinha religião, era o inverso do que eu tinha visto em toda a minha vida. Era muito mais aberto para as minhas ideias. Me sentia tratado não como um adolescente, criança ou jovem, mas de igual para igual. A maioria dos caras era muito novo também, professor de 23, 25 e 27 anos, não muito mais do que isso. Não era uma diferença tão absurda. A gente até saía para beber juntos, curtir, falar sobre rock. Fazíamos até uma espécie de sarau. Intervalo na escola rolava rock. Sentava para conversar sobre música, cada um levava uma fita e punha para tocar. Trocávamos ideia e isso ia se estendendo, às vezes até 3h da manhã. Tive também bandinhas de escola com caras que se tornaram músicos importantes. Alguns deles participaram de bandas como Mercado de Peixe, Amnésia e também do conjunto do sertanejo Daniel. A escola era bem musical, tinha muita gente que era envolvida com música. Havia pelo menos seis músicos bons só na minha classe", apontou.

Dioy Pallone em apresentação com o Carrão de Gás

Carrão de Gás
No início dos anos 2000, Dioy migrou da guitarra para o baixo por conta de uma exigência própria para a banda que estava formando. "Não é que não existiam bons baixistas, porque tinha sim, mas não existia um músico com o perfil do cara que eu queria para a minha banda. Aí eu decidi me tornar esse cara. Essa banda já era o Carrão de Gás. Foi em 2001, eu tinha 21 anos. O Carrão nasceu dentro de um estúdio, porque eu tinha um bom relacionamento com o Maurinho Saldanha, dono do Sótão, e gravava muita coisa para eles. Gravava guitarra para sertanejo, jingles, me arriscava a gravar umas coisas de baixo, cantava, era um trampo de estúdio mesmo. Eu ficava o tempo todo enchendo o saco que queria fazer alguma coisa com ele. Falava que era muito bom e tínhamos que montar uma banda com ele na bateria, mas ele tinha muito trabalho no estúdio e relutava porque não queria voltar a ter uma banda. Era um cara um pouco mais velho também, mas foi inevitável. Acabei convencendo ele e chamei o Léo Amorim, que era um garotinho na época, com 17 anos, e veio tocar guitarra. Ele também era muito bom e eu já tinha participado de uma banda de garagem com ele antes. Então já tínhamos o guitarrista, o baterista e faltava o bendito do baixista. Foi aí que decidi e falei: Eu vou para o baixo. Hoje não consigo me imaginar no palco sem um baixo, o baixo é o meu principal instrumento. No Carrão de Gás, gravei guitarras nos discos, gravei também em cobertura de DVD, mas ao vivo nunca. Nem violão e nem guitarra, só baixo. Em outras bandas de garagem cheguei a tocar guitarra, mas depois do Carrão não", relatou. Pouco anos depois, o conjunto tomou a cena local de assalto e tornou praticamente impossível assistir a um show no qual o Carrão não estivesse envolvido em São Carlos. Com seriedade e trabalho duro evidente, a banda caiu no gosto do são-carlense e se firmou como uma das mais importantes no cenário do rock regional. "Como qualquer outro jovem tive pressões normais na minha casa. Meus pais diziam Ok, faça o que você quer fazer, mas tenha certeza que você vai poder sobreviver disso e manter um padrão mínimo do que você considera adequado para sua vida. Eu vivi sempre com um pé em cada canoa: um na música e um na escola; um na música e outro na faculdade. Não cheguei a me formar. Comecei a cursar Direito e odiei. Saí de lá e fui para Propaganda e Marketing. Quando estava praticamente me formando, o Carrão de Gás começou a ter uma demanda absurda. O Carrão cresceu muito, era uma banda que não tinha nenhuma pretensão de início. Era apenas para fazer um som no estúdio, mas de repente pintou uma data, depois cinco, dez. A hora que vi já tínhamos disco, investidor e a coisa foi indo. Não dava mais para ficar faltando tanto e resolvi trancar a faculdade. Nunca mais voltei", apontou.

Dioy Pallone em apresentação com o RPM

RPM
"Durante minha infância, estive envolvido em todo aquele movimento musical, uma geração que respirava rock. Rock in Rio acontecendo, um monte de banda nacional estourando, rock no rádio o tempo todo. Foi aí que o RPM explodiu com o disco Rádio Pirata, em 1986. Inevitavelmente eu também descobri o RPM na rádio. Em determinado momento, a cada 10 músicas que tocava, quatro eram do RPM. Os caras conseguiram, em um disco ao vivo, emplacar quase que 80%. Hoje isso parece impossível, mas o RPM é um fenômeno, a maior banda de rock da história do Brasil por tudo que representou", contou. "No Natal de 1986 ganhei o disco Rádio Pirata. Acho que todo mundo tinha esse álbum. Esse disco era O disco de rock nessa época. Ganhei e adorei. Nessa época eu ainda arranhava na guitarra e adorava escutar. Rolava muito bailinho e sempre tocava o disco Rádio Pirata inteiro. É a trilha sonora da minha infância. Eu amava Alvorada Voraz, ainda adoro. É sempre muito importante para mim tocar ela. Não é minha música favorita, hoje eu gosto de Sob a Luz do Sol, do primeiro disco. Tem uma batida diferente, uma letra bacana, me identifico muito com essa coisa de letra porque me lembra muito minha juventude. Quando o Carrão estava no auge, era aquela coisa de dormir quase nada, não comer nada, tocar para caramba, beber até cair e viver sabe Deus do quê. Mas era uma energia que vem do Rock n Roll e essa música é isso. Eu amo o repertório do RPM desde sempre", continuou. O convite para entrar na banda surgiu ainda este ano, após um show do Carrão de Gás com o guitarrista do RPM, Fernando Deluqui. "Conheci o Nando pelo Carrão de Gás em São Paulo entre 2005 e 2006. Nossa assessora de imprensa era muito amiga dele e da esposa e ele conheceu nossa banda, curtiu e acabamos marcando de se conhecer em um show nosso em São Paulo. Acabou sendo muito legal, o Nando subiu no palco, deu uma canja e saiu um baita som. Rolou uma empatia absurda, musical e pessoal, entre eu e ele. Dali para frente mantivemos contato. O que aconteceu de verdade é que no começo de 2018, o Léo não pode comparecer a uma data do Carrão e a gente não podia desmarcar o show. Fazia tempo que eu não via o Nando. Dei uma ligada para ele e convidei para tocar no show, o que ele topou na hora porque estava tranquilo naquele final de semana. Então ele veio e foi tão legal que ele ficou com isso na cabeça. Ao fim do show, eu ficava falando para ele que o RPM tinha que voltar, que não podiam ficar parados, que o rock precisava deles, estava carente demais para uma banda dessa magnitude ficar parada. Era um desperdício absurdo e eu queria que eles se arrumassem. Depois de um mês eu recebi um telefonema dele me chamando para ir até São Paulo conversar. Não imaginava de jeito nenhum, mas ele me convidou para fazer parte da nova formação. Eu não conhecia o restante da banda, conheci depois de um primeiro papo com o Nando. Quando contei para a minha esposa, meus pais, todo mundo apoiou e disse que era uma oportunidade única e que a hora era agora. Já dentro do estúdio acabei conhecendo o Luiz e o PA. Acabamos ensaiando e foi algo mágico. Minha entrada oficial para a banda só veio depois da primeira música que toquei com eles, Loiras Geladas. Depois de três minutos e meio, já me deram boas-vindas", comentou. "Eu nunca imaginei que ia ter uma oportunidade em uma banda desse tipo. Eu queria desenvolver minha própria banda, porque não acreditava que pudesse fazer parte de algo dessa forma. Mas se tivesse que ser uma banda, eu queria que fosse o RPM, porque tem tudo a ver com meu estilo, meu jeito, a forma como eu encaro a música, como eles encaram as gravações, como queriam soar gringos, diferentes, melhores, mais sofisticados. O RPM tem um som único, tem um polimento diferente, as letras não são 100% políticas, mas tem amor, política, um pouco de violência, subversão e um pouco do lado sombrio. É uma banda muito interessante, então para mim, estou no Céu", completou. Sobre os planos do RPM, Pallone revela que a banda terá um novo formato e já planeja entrar em estúdio no segundo semestre deste ano para gravar algumas canções novas. "A ideia da banda nessa reformulação, que acaba sendo uma ruptura de uma imagem e um formato muito importante, é de dividir funções. Hoje a imagem do RPM não é mais centralizada na figura do baixista e vocalista. Ela é dividida por igual pelos seus membros. Todo mundo é de extrema importância. Tem horas que um acaba tomando uma porcentagem maior do trabalho, mas é sempre algo pensado. As figuras do Nando, Luiz Schiavon e Paulo Pagni são de extrema importância para o rock nacional. Com a minha entrada é a mesma coisa, eu sou a figura do vocalista e baixista, assumi parte do repertório clássico também e vou assumir a parte das músicas que estamos compondo. No geral, cada integrante é 25% da banda. Tem horas que um é 50%, 75% ou até 100%. Não existe mais essa coisa do frontman no RPM. A ideia é justamente quebrar isso. A banda é muito grande e muito maior do que só um integrante. Ela tem muita história e muito repertório para que possamos fazer dessa forma. Isso, claro, sem fazer uma completa descaracterização daquilo que já existe, mas é uma nova linguagem e uma nova roupagem. A gente acredita que levando por esse caminho a banda tem muito mais chances de perdurar. Para o futuro, não sei se vai vir pela frente um formato de álbum, mas músicas com certeza. Temos material já sendo selecionado e pelo menos sete músicas muito legais para trabalhar. Nada lançado ainda, tudo em formato de demo. Devemos entrar em estúdio para gravar até, no máximo, o meio de agosto. Gostaríamos muito de já ter alguma coisa nova em setembro", especulou o baixista. O músico também afirma que a recepção dos fãs tem sido melhor do que imaginava. "Eu sei que é uma missão dura, difícil, porque você quebrar um formato e chegar em um lugar que já tem uma cara é muito complicado. Eu não estou substituindo ninguém. É impossível fazer isso, não dá para fazer essa tarefa. Estou lá para ser mais um de um time muito grande, muito importante e que eu vou fazer meu melhor para que possamos fazer coisas incríveis, cuidar e honrar tanto o passado quanto os fãs. Nos dedicar e dar aos fãs o que merecem. Eu acredito que o que os fãs querem mesmo é a banda na estrada. Querem ouvir as músicas, ver a banda, contato, carinho, mas acima de tudo música, querem ir ao show. Mediante toda essa situação, tem sido a melhor experiência possível. Há uma pequena porcentagem que realmente reluta, que gostaria que a formação original estivesse reunida na íntegra, mas a gigantesca maioria apoia, está curtindo e comparecendo. Os fãs do RPM são incríveis, estou surpreso, realmente encantado com o detalhamento, carinho e dedicação deles com a banda. O quanto debatem, difundem e defendem uma ideia. Estou feliz", afirmou.

Comparações com Paulo Ricardo
A semelhança física entre Dioy e o antigo frontman do RPM, Paulo Ricardo, também é algo intensamente debatido pelos seguidores da banda nas redes sociais. O são-carlense conta que a comparação já acontecia mesmo antes de entrar para a banda, mas espera superar o rótulo imposto por uma parcela dos ouvintes como um substituto. "É um assunto delicado porque é justamente tudo o que eu não quero. Não quero comparações, sei que é inevitável, é impossível sermos tão céticos e não debater um pouco o assunto. Isso já acontece há muito tempo, é até engraçado porque é algo que me persegue um pouco desde a época do Carrão. Eu acho que não temos nada a ver, as vozes não bem diferentes. Eu sou muito fã do Paulo Ricardo, como artista e como músico no RPM", falou"Respeito muito o artista que ele é, muito grande. Dizer que eu me inspirei nele de alguma forma não é 100% verdade. São grandes coincidências: eu baixista, ele também; eu vocalista, ele também. Fisicamente, temos semelhanças, realmente lembra. No palco, também há coisas parecidas. No entanto, a minha formação é muito mais do Hard Rock dos anos 80 do que de qualquer artista nacional. Não desmerecendo ninguém, mas eu bebi muito mais dessa fonte do que das bandas brasileiras. Me criei e fundi uma série de artistas e influências mais voltados para os caras que eu ouvia com maior frequência. O Paulo é uma baita referência, ainda mais no Brasil. Talvez seja a maior referência que eu tenha no país, mas nunca eu tive a pretensão de imitá-lo ou qualquer outra coisa. São coincidências, realmente coisas da vida. Claro, agora muito envolvido com o RPM, quero fugir disso ao máximo, mas é impossível que eu vá para o palco me preocupando com isso. Eu sou exatamente desse jeito. Se eu absorvi alguma coisa dele, foi absolutamente inconsciente. E não vejo nenhum mal nisso, porque eu acho ele do c******", afirmou.

Música e legado em São Carlos
Casado e pai de dois filhos, Dioy Pallone acredita que o cenário regional do rock esteja em decadência. Parte integrante do que pode ser uma das últimas gerações de bandas de impacto na cena local, o vocalista percebe uma mudança no movimento musical de São Carlos. "Estou com quase 40 anos, talvez a minha geração seja a última. Eu cresci em um cenário onde os caras mais velhos tocavam muito, eram muito bons e tinha muita banda. Esses caras puxaram minha geração, eu saía de casa e pagava para ver eles tocando. Era o meu barato. Eles eram ídolos para mim, espelhos, e eu queria chegar naquilo. Se eu pudesse, queria ter honra de tocar com esses caras. Hoje não tem mais isso, não tem mais uma geração para trás da minha. Ninguém saiu seguindo o Carrão porque queria tocar baixo, guitarra, bateria. O pessoal estava ali porque foi para uma balada ou outro motivo. As bandas vão naturalmente acabando, porque cada um vai tomando um caminho, ficam velhos, param, mas não está chegando nada", apontou. "Acontece isso no cenário macro também. Black Sabbath estava se arrastando, mas subindo aos palcos há dois anos. O Ozzy se arrastando. O Kiss não tem condição de fazer um show e cantar várias músicas, mas está lá. O Iron continua bem, Alice in Chains, Foo Fighters e Metallica continuam bem. Ainda tem ali umas 10 a 15 bandas da década entre 1980 e 1990 que estão na ativa, mas quando pararem, quem estará no lugar deles? É a mesma coisa aqui: se o Carrão parar, se o Tarja Preta parar, o Amnésia, quem vem depois? Não vem. Não querendo desmerecer o trabalho de ninguém, mas as bandas que vêm não procuraram criar uma identidade. Tem um monte de banda igual. Todo mundo toca o mesmo repertório. Na minha época havia uma preocupação lascada em tocar o que ninguém tocasse. O Carrão ganhou notoriedade pela seriedade com que encarava as coisas. Profissionalismo de imagem, palco, instrumentos e por tocar o que ninguém mais tocava. Hoje temos 20 bandas tocando a mesma coisa. Isso é um tiro no pé. O cara vai para o show e não se preocupa com o visual, vai de qualquer jeito. Qualquer instrumento vai, toca o que for. São esses detalhes que um dia podem fazer a diferença. A hora que isso acabar eu temo muito pela nossa cena, falando de São Carlos. A gente não tem uma grande geração de moleques de 20 anos formando bandas e que vão fazer algo acontecer", completou. O músico também enxerga uma mudança na disponibilidade de locais e estabelecimentos voltados para a música na cidade. "A gente tinha espaços lá atrás, mas não muito. O Carrão por exemplo nunca teve espaço em muitos lugares. A gente teve espaço apenas em lugares que pagassem para que tocássemos. Palquinho da Federal? Tentamos 200 vezes, nunca tivemos a oportunidade. O Caaso recusou a gente umas 40 vezes. No underground minha banda não acontecia. Eu já tinha uma ideia de que se quisesse ganhar dinheiro, tinha que ir ao contrário disso, mas é um caminho muito mais difícil. Tivemos a sorte de encontrar um caminho. Acho também que tivemos um pouco do mérito de abrir as portas para bandas que não tocavam em casas noturnas e sim no Caaso e no palquinho da Federal. Acabamos criando uma abertura para que fossem tocar no Café Cancun, na Usina e depois em outros lugares. Fizemos o movimento inverso de todos. Nesse sentido, eu acho que hoje temos mais lugares para tocar do que nessa época. Em São Carlos, hoje, temos pelo menos quatro pubs. Araraquara tem pelo menos mais uns quatro. Houve uma época em que tocar em São Carlos era tocar sempre nos mesmos dois lugares, tirando o eixo underground. Isso acabou. Tivemos mudanças radicais no perfil do público, nos estudantes das universidades, problemas de ordem pública, segurança, tudo mudou. A cena underground acabou, mas a parte privada tem muito lugar para tocar", contou. Tendo finalmente alcançado o topo da cadeia alimentar no âmbito da música nacional, Dioy Pallone acredita que ainda há muito trabalho a ser feito para se manter ali. "Eu sou muito pé no chão, muito tranquilo e levo tudo muito a sério. Minha seriedade não permite que eu viaje, que eu sonhe muito. Não posso dizer que vivo um sonho, porque não é sonho para mim. Eu enxergo hoje que tudo que eu fiz teve um motivo. As portadas na cara, minhas frustrações, as coisas legais que consegui, que conquistamos, tenho muito orgulho da minha história, do Carrão de Gás, da minha trajetória pessoal, mas nada exagerado. A gente trabalhou muito e sempre levei muito a sério. Estar onde estou hoje é uma honra absurda, eu sinto um pouco de sorte, mas com certeza, tudo o que aconteceu na minha vida e que me levou até isso teve um motivo. Passo a passo, tudo amarrado. Eu não sabia para onde estava indo, mas sabia a direção que queria seguir e o que eu acreditava que era certo e bom eu fazer. Com muito discernimento e muita autocrítica. Às vezes as pessoas fazem as coisas e pensam que são azaradas, que não têm sorte e que as coisas só acontecem para os outros. Se não aconteceu, você provavelmente não está prestando atenção aos detalhes e alguma coisa está errada. Você precisa observar os detalhes para que de alguma forma algo te leve na direção que você quer chegar. É mágico, estou feliz demais. Viver disso significa ter que me dedicar às vezes mais à música do que à minha família, que também demanda um tempo enorme. Vou me dedicar ao máximo ao RPM, então poder estar nessa situação hoje é realmente muito gratificante", finalizou.

Fonte: Orlando Duarte Neto | ACidadeON/São Carlos

 

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